Elizabeth entrou em casa e fechou a porta. Tinha acabado de chegar da sua caminhada. Gostava de caminhar excepcionalmente cedo, quando ainda não havia ninguém na rua. A não ser aquele velho, pensou. Todas as vezes que passava na praça, via um velho sentado sempre no mesmo banco. O estranho era que ela morava ali havia tempo, e como a cidade era pequena, conhecia todo mundo, mas nunca tinha visto aquele senhor antes. E ele a ficava encarando com um olhar estranho, por isso ela nunca falara com ele. Sentou-se em sua cadeira favorita, ligou o rádio e ficou procurando uma estação que a interessasse. Resolveu deixar em uma rádio onde sempre passavam histórias de terror. Recostou-se em sua cadeira e ficou escutando a história...“Em uma pequena cidade ouviam-se rumores sobre o novo morador. Afonso, um senhor de idade, havia comprado a casa na encosta do morro, que estava vazia há anos, desde que seu antigo dono fora assassinado ali. Apesar dos boatos, ninguém sabia nada a seu respeito. No mais, a cidade continuou como sempre foi, calma e harmoniosa.
Simone vivia há tantos anos naquela cidadezinha que poderia escrever a biografia de qualquer morador, se quisesse. Conhecia cada segredo de cada pessoa daquele lugar. Não por ser uma pessoa bisbilhoteira, mas sim porque as pessoas confiavam nela para guardar seus segredos. Em uma manhã de sábado, Simone foi fazer a sua caminhada matinal quando avistou Afonso sentado à sombra de uma árvore, na praça, como sempre fazia. Cumprimentou-o com um aceno, mas não obteve resposta. Ele parecia concentrado em alguma coisa. Resolveu deixá-lo em paz e seguiu seu caminho. Ao passar em frente à Igreja, viu Rosa parada em frente à escada. Ao ver seu olhar de estranheza, Simone se aproximou e perguntou:
- O que aconteceu?
Rosa olhou-a como se nunca a tivesse visto antes.
- Ah, oi Simone! Desculpa, é que eu estava aqui pensando...
- Pensando sobre o quê? – perguntou Simone.
- Sobre um bilhete que eu recebi hoje... Olha só que estranho... – diz Rosa mostrando-lhe o papel.
- “Você será a próxima vítima” – Simone lê – Deve ser alguma brincadeira de mau gosto! Não fica preocupada não, Rosa.
- É, você tá certa – disse Rosa, confirmando com a cabeça, mas sem muita convicção – É só uma brincadeira mesmo.
Simone despediu-se de Rosa e voltou para casa. À noite, quando se preparava para dormir, ouviu um barulho de sirene e correu para fora, para ver o que havia acontecido. Viu um carro de polícia parado na praça e, ao se aproximar, viu um corpo com uma corda amarrada no pescoço e pendurada em um dos galhos da árvore. Quando o farol do carro da polícia iluminou o local, Simone reconheceu o cadáver. Era Rosa!
Os policiais colocaram o corpo no chão. Simone se aproximou e percebeu que ela segurava um papel. Pegou-o de sua mão e leu. Era o mesmo bilhete que Rosa tinha lhe mostrado mais cedo naquele mesmo dia. Que estranho, pensou Simone. Será que era mesmo só uma brincadeira?
Dias se passaram desde o estranho fato. O caso foi investigado, mas o responsável não foi encontrado. Simone mal se lembrava de Rosa, mas ainda guardava o bilhete que ela segurava no dia de sua morte. A caminho do mercado, Simone encontrou Alice com um bilhete na mão. Aproximou-se e leu: “Você será a próxima vítima...”. Lembrou-se do bilhete de Rosa e alertou Alice. À noite ouviu sons de sirene e, pressentindo o que estava acontecendo, saiu à rua. Descobriu que o corpo de Alice fora encontrado na escadaria da Igreja com marcas de facadas.
Meses se passaram e mais mortes ocorreram. O assassino ainda não havia sido descoberto, era o criminoso perfeito. Os moradores da cidade pararam de sair de casa, amedrontados com a onda de assassinatos. Simone estava em casa naquela tarde quando alguém bateu à porta. Ela abriu a porta e não viu ninguém, mas antes de fechar viu um papelzinho no chão. Abaixou-se para pegá-lo e sentiu uma rajada de vento frio. Arregalou os olhos quando leu: “Você será a próxima vítima...”. Correu para dentro e trancou todas as portas e janelas, encolheu-se no sofá, onde ficou até tarde da noite.
Já era madrugada e Simone havia se convencido de que nada iria acontecer com ela, quando ouviu um barulho na cozinha. Assustada, ela ligou para a polícia e pegou a lanterna e um revólver que escondia na gaveta da estante. Foi andando em direção à cozinha e avistou um vulto nas sombras. Não podia atirar agora, precisava saber quem era o assassino! Virou a lanterna na direção do vulto. Ao ver quem era, gritou:
- Afonso! – disse, largando a lanterna no chão – você é o assassino!
Afonso fez sua cara mais sinistra e pulou em cima de Simone com uma faca. Simone gritou e apertou o gatilho. Afonso levou um tiro na perna, mas quem saiu no prejuízo mesmo foi Simone. Alguns minutos depois a polícia chegou e levou seu corpo. Depois de quase ter sido pego, Afonso decidiu mudar-se de cidade. E ninguém mais ouviu falar nele...”.
Elizabeth desligou o rádio. Nossa, pensou, que história macabra. Sentiu um arrepio e uma rajada de vento frio. Olhou para o chão e viu um bilhete: “Você será a próxima vítima...”.
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