domingo, 25 de julho de 2010

Sem [t]alento

Eu já tive esperanças, sonhei contigo.

Tu estavas no mais alto pedestal.

Hoje, essa imaturidade eu maldigo;

Nada mais que uma ilusão bestial.


Esqueço as rimas, a métrica, mas não a mágica da poesia,

Na medida em que o verso, sempre, minh'alma cura,

Livra do vazio o sentimento, trata a mente, as dores alivia,

Enquanto o coração as perdas ainda mensura.


Quis ser seu anjo protetor, imagem das mais puras.

Agora encarno a figura daquele cavaleiro romântico,

Que, macilento,  vagava pelas trevas impuras,

Como entoasse da morte um velado cântico.


Só me interessa ser, então, depois de tanto lamentar,

" O sonho de tua esperança,

Tua febre que nunca descansa,

O delírio que te há de matar!"









domingo, 18 de julho de 2010

Contra-fábula

Poucos devem conhecer a fábula "O Galo e a Pérola":

O Galo e a Pérola

Um galo estava ciscando, procurando o que comer no terreiro, quando encontrou uma pérola. Ele então pensou:
— Se fosse um joalheiro que te encontrasse, ia ficar feliz. Mas para mim uma pérola de nada serve; seria muito melhor encontrar algo de comer. Deixou a pérola onde estava e se foi, para procurar alguma coisa que lhe servisse de alimento.

Moral: Às vezes, o que é precioso para um não tem valor para outro.


Mas mais interessante é uma possível contra-fábula:


Contrafábula do Galo e da Pérola

Ciscava um galo, procurando o que comer no terreiro, quando encontrou uma pérola. Ele então pensou:
— Se um joalheiro te encontrasse, ficaria feliz. Mas para mim uma pérola é inútil; seria de mais valia encontrar um punhado de migalhas ou alguns bichinhos desavisados que servissem de alimento.
Deixava o lugar, em busca de mantimento conveniente, quando um galo de outro poleiro se aproximou.
- Bom-dia! – exclamou o forasteiro – Qual é seu nome, amigo?
- Cândido – respondeu o galináceo esfomeado – E o seu?
- Sou George. George Frederick Kunz.
Percebendo a rutilância do objeto no chão, Kunz apontou para ele e perguntou:
- É seu?
Ao que, inocentemente, Cândido respondeu:
- Não. Encontrei aí quando procurava comida. Não serve de alimento, portanto não vale nada.
- Vou levar comigo, então – replicou Kunz, disfarçando a malícia – Talvez eu consiga trocar por uma espiga de milho.
- Boa sorte!
Kunz seguiu seu caminho e, por alguns dias, Cândido não teve notícias dele. Quando reapareceu, George vestia uma capa linda, de veludo vermelho e ornada com joias. Era seguido por muitas galinhas, que não abriam mão de sua companhia. Foi quando Cândido soube que George era um especialista em gemas e sua paixão por pérolas havia levado uma famosa joalheria a incorporá-las a seu catálogo de preciosidades. George ganhou mais dinheiro do que era possível contar e viveu muito bem, enquanto Cândido continuou no terreiro, com fome, até passar deste ao outro mundo.

Moral: Não há oportunidades perdidas; se não souber aproveitar uma, alguém saberá.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Venha comigo

Quase dois anos depois, Lílian já estava conformada com a morte de seu marido. No início foi difícil, ela ficou desolada. Por vários meses, não saiu de casa. Com o tempo, foi voltando a trabalhar e a retomar sua rotina. Hoje mesmo ia sair com seus amigos para comer uma pizza. Tinha combinado de se encontrar com eles na pizzaria e já estava atrasada! Correu para o elevador e apertou o botão do térreo. O elevador estava com um perfume vagamente familiar, mas, com pressa, Lílian nem lhe deu atenção. Chegando no térreo, se dirigiu para o estacionamento do prédio e entrou em seu carro. Saindo da garagem, pensou ter visto alguém se aproximando do veículo e resolveu esperar. Ao olhar pelo retrovisor, sentiu seu coração dar um pulo. “Não pode ser!”, pensou. Desceu do carro e olhou para ele. Era seu marido!


- Rubens! Você voltou para mim! Eu pedi tanto e você voltou! - disse em meio às lágrimas.


- Sim, eu voltei, meu amor. – Disse ele e a abraçou. Ficaram bastante tempo assim. Afastando-se dela, ele disse:


- Mas não posso ficar por muito tempo. Eu vim para levar você comigo.


Esquecendo-se completamente de seus amigos, Lílian fez que sim e o beijou. Entraram no carro, Rubens dirigia. Maravilhada por ter seu amor de volta, ela nem ao menos olhou para onde estavam indo. Não importava para onde, iria ficar com seu amado para sempre.


Na pizzaria, seus amigos reclamavam da sua demora. De repente, um celular toca. Era da polícia rodoviária. O carro de Lílian foi encontrado numa estrada deserta, mas seu corpo não foi visto.